As três principais características de um bom tradutor profissional

Outro dia me perguntaram quais as características de um bom tradutor na minha opinião. Neste post eu cito as que eu considero serem as três mais importantes.

  1. Domínio Linguístico

In-dis-pen-sável. Sem dúvida, o mais importante para um bom tradutor, é um sólido domínio das línguas de trabalho. Isso inclui tanto o domínio da norma culta quanto de variedades informais. E acrescento: mesmo para quem traduz somente para a sua língua nativa, o conhecimento idioma de partida precisa ser excelente, de forma que o tradutor selecione a melhor opção dentre as disponíveis e aborde nuances sem a perda de sentido (ou com a menor perda possível). Do contrário, se você não tem a proficiência linguística, você poderá ler e interpretar algo incorretamente, traduzindo de maneira errada o conteúdo original sem nem se dar conta disso.

O domínio das línguas e dos seus registros, da maneira como eu vejo, é mais importante até que a habilidade de pesquisa e recursos disponíveis. De nada adianta ter dicionários maravilhosos e excelentes fontes de consulta se eles não forem usados corretamente e nas situações necessárias. É bem comum um tradutor inexperiente ou com pouco domínio linguístico se sentir confiante sobre um termo, não chegando nem mesmo a cogitar que há uma tradução melhor ou mais correta.

Tive contato com um exemplo disso em uma tradução que li outro dia. A pessoa vertera “to miss” para “sentir saudade”. De fato, em certos contextos, a tradução é correta. Como dizemos: errado, não estava. Entretanto, naquela situação específica, o que o autor queria dizer era “perder”, no sentido de não estar presente em um evento.

2. Uso Corrente da Fala e da Escrita

Em segundo lugar, eu acho essencial ler bastante e estar em contato falado e escrito com pessoas e conteúdos monolíngues em ambas as línguas. Muitas vezes, se você lê, fala ou escreve pouco na sua língua B, normalmente aquela para a qual você traduz, você acaba copiando a semântica sem nem notar, o que resulta em textos que “têm cara de traduzidos”.

O contrário também pode ocorrer. Pessoas que moram em outro país acabam tendo mesmo o domínio da sua língua materna “contaminado” pela língua que mais usam. Aqui na Europa, por exemplo, eu vejo inúmeros brasileiros dizerem coisas como “aplicar para a universidade” no Reino Unido, e “anular a reunião” na França. O uso frequente de uma língua estrangeira pode acabar afetando a ordem de que termos surgem primeiro à mente. Isso pode fazer com que um texto traduzido por um falante nativo chegue, surpreendentemente, a parecer ter sido traduzido por um estrangeiro.

Se quiser saber mais sobre isso, pesquise sobre atrito linguístico; é um tema fascinante sobre a cognição e comunicação humanas, na minha opinião.

Neste site, por exemplo, constam diversos exemplos de textos que, vemos claramente, foram traduzidos do inglês: https://razoesparaacreditar.com

3. Conhecimento avançado de outra(s) área(s)

O conhecimento técnico de outras áreas é um bom (aliás, excelente) caminho e uma forma de se destacar. Eu diria, aliás, que trata-se de um quesito poderosíssimo! Um tradutor que conheça os jargões e termos técnicos de outras áreas, que saiba falar como um especialista, já começa à frente até de pessoas que tenham até mesmo mestrado ou doutorado, por ter conhecimento de nível acadêmico e conseguir também aprender conteúdos novos com mais facilidade.

E você?

Também acha que essas três são as principais características de um bom tradutor?

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